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.......................................Espaço de Educação Musical para pais, alunos, amigos e colegas de profissão da professora Luciana.

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Aula 03 - Infantil II e III - Os sons das irmãzinhas

Sobre o tema da aula:

As crianças a quem esta aula é dirigida já foram sensibilizadas para a percerpção de som e silêncio, e seu estágio de desenvolvimento já permite nomeá-los através de símbolos. Portanto a aula apresenta a semínima e a sua pausa como significantes daquele movimento sonoro que elas conheciam através da pulsação: sons intercalados por respirações silenciosas, formando um ritmo musical. Como qualquer outro símbolo que a criança utiliza na fase de letramento, este também deve ser fruto de uma necessidade de expressão. A criança que vivencia a música, experimenta, cria, toca, imita, sentirá inevitável curiosidade e desejo pela grafia que é capaz de registrar tudo isso. "Qual é a mágica daquela partitura cheia de figuras indecifráveis? Como essa nova linguagem musical pode traduzir o que eu sinto e penso?"
É verdade que o professor pode utilizar qualquer outro símbolo para estimular a grafia musical rudimentar. É até mesmo recomendável que isso aconteça, que a criança invente seu símbolos ou interprete sinais abstratos conforme seu próprio entendimento. É lúdico e fascinante criar "partituras" com sol, peixe, estrela, rosto, pé, tatu. Uma estrela pode ser um som agudo. Uma constelação pode ser um acorde. Um tatu pode ser um silêncio. Um pé pode ser a batida deste no chão. Mas para chamar um som de semínima e um silêncio de pausa de semínima eu não preciso tirar a ludicidade da aula. As crianças "precisam" ter acesso a esses símbolos agora? Eu prefiro outra pergunta: as crianças QUEREM ter acesso a esses símbolos agora? Entender não precisa ser um ato sem magia. Adquirir conhecimento é algo mágico em qualquer faixa etária. O conhecimento dos símbolos musicais pode e deve ser um ato de alegria. Este foi meu objetivo: criar uma história que leve a criança a desejar entender semínima e pausa de semínima e incorporar essa informação como parte do seu universo.

Como foi?

Como nossa história ia girar em torno de uma casa, comecei fazendo o aquecimento com músicas infantis sobre casas. Perguntei sobre a casa de cada um, e concluímos que as casas tem cores diferentes, formas diferentes, porque nelas vivem pessoas diferentes. É uma boa oportunidade para cada criança marcar a pulsação da música com clavas ou outro instrumento.


Comecei apresentando o desenho de uma casa com o número 4 em cima da porta. Nessa casa, contei, moram duas irmãs gêmeas, a semínima e a pausa de semínima. Elas moram numa vila onde todas as casas tem o número 4, e todas as moradoras das casas sao irmãs. O curioso é que as irmãs são muito unidas e adoram passear juntas, mas são totalmente diferentes uma da outra, a começar por seus corpinhos (apresentar os símbolos). A pausa de semínima gosta de olhar a natureza, ouvir os pássaros, brincar de pega-pega, e faz tudo isso caladinha, caladinha. A voz da pausa de semínima é feita de silêncio. A semínima adora cantar, tocar e fazer barulho: sua voz é formada por todos os sons do mundo, ruídos e sons musicais. Neste momento convidei as crianças a tentarem ouvir a voz das irmãzinhas ao redor de nós, tentanrem ouvir os sons e os silêncios. Depois pedi que me dissessem o que ouviram.



Agora brincamos de imitar as irmãzinhas. Ao mostrar a pausa de semínima as crianças calam, ao mostrar a semínima dizem TÁ (e batem com a clava).



Então testamos algumas sequências usando um quadro magnético e alguns ímãs: as semínimas repesentadas pelas carinhas smile, e as pausas representadas pelos ímãs vermelhos. Fiz algumas sequências para explicar como o jogo funcionava, apontando cada peça e fazendo o gesto correspondente (TÁ ou silêncio), e depois cada criança formou sua própria sequência, que as demais executavam.



Depois de bem entendido, convidei os alunos a passearmos com as amiguinhas novas. Que tal um paseio de trem? Apresentei os três maquinistas no nosso trem:

 Bino, o maquinista do compasso binário
Tereza, a maquinista do compasso ternário (sim, garotas também podem ser maquinistas)

 Quaquá, o maquinista do compasso quaternário

Colocados assim os símbolos musicais não parecemtão assutadores, não é?  Você pode até fazer fantoches, e usá-los para explicar: para saber quantas semínimas e pausas de semínima cabem no vagão, basta olhar para a barriguinha do maquinista. A parte de BAIXO diz que quem vai viajar são as nossas amiguinhas que moram na casa n° 4. A parte de CIMA diz quantas amiguinhas cabem no vagão. Você pode usar recortes de semínimas e pausas de semínima para eles colarem no trem.

Agora vamos passear com nossas amiguinhas pela "Pequena serenata noturna" de Mozart. Dê um instrumento de marcação rítmica às crianças e peça que usem livremente as semínimas ou sua pausa enquanto dançam pela sala.

 

Aula 03 - Maternal e Infantil I - Meus brinquedos preferidos

Sobre o tema da aula:

Entre as correntes pedagógicas mais modernas em Educação Infantil, há muitos pontos discrepantes mas algo aparece sempre em comum: partir do contexto da criança, daquilo que está mais próximo a ela. Os brinquedos cumprem bem essa função. Além de serem objetos que elas já conhecem - e esse conhecimento de mundo que elas trazem para a escola tem que ser valorizado -, os brinquedos também evocam uma afetividade que cataliza a ação de aprender. Está provado que com emoção e sentimento as crianças pequenas aprendem mais rápido e melhor. Há ainda a vantagem dos brinquedos serem objetos concretos, e nessa fase a mente dos pequenos trabalha sempre do concreto para o abstrato, e não o inverso. Cada conteúdo precisa ser manipulado e visualizado em algo concreto, é assim que seus cérebros funcionam. Usando brinquedos sonoros é possível explorar timbres, altura, intensidade, ritmo, e fazer um trabalho de percepção auditiva eficaz e interessante para elas. Em minhas aulas tenho procurado trabalhar de modo que as crianças brinquem e se divirtam de tal modo que esqueçam que estão "tendo aula". Apenas eu não posso esquecer disso. Criança tem que se preocupar só em brincar mesmo! A obrigação dela aprender é sempre responsabilidade dos adultos ao seu redor, não dela, capisce?

Como foi?

Como é bom reencontrar velhas músicas que marcaram nossa infância e que continuam sendo boas demais. Por isso comecei com essa, do musical "Casa de Brinquedos", do Toquinho. Acompanhamos a música do macaquinho de pilha com palmas e outros gestos sonoros criados conjuntamente, professora e alunos.


Depois da música do bom dia individual, comecei apresentando um brinquedo sonoro bem interessante que tenho aqui em casa: um sapinho de pelúcia que "toca" saxofone quando você aperta no pé dele. Os bebês ficaram vidrados e deixei que todos vissem, ouvissem e tocassem um pouquinho. Então falei que muitos brinquedos tem sons interessantes para a gente ouvir, e apresentei a música "meus brinquedos". Cada criança/bebê ganhou um bichinho de pelúcia para fazer carinho e ninar enquanto cantávamos:

"Devagar, toco com os dedos
Sei cuidar dos meus brinquedos
E do meu ursinho, que é tão fofinho
Trato os brinquedos com carinho" (bis)
(Elvira Drummond) 

A história que contei está no livro "Os brinquedos do Leo", de Elvira Drummond (Coleção Descobrindo Sons, livro 2). Nela aparecem os sons do trenzinho, da caixinha de música, do apito, do tambor, do soldadinho de corda, do robô e da buzina do velocípede. Repassamos esses sons para as crianças nomearem, ou, no caso dos bebês, para eu nomear cada som, mostrando também o objeto no livro.

A canção com movimentos locomotores chama-se "Barquinho de papel", e a proposta rítmica  é levar os adultos a embalarem as crianças em movimentos de balanceio. Esse movimento, que a mãe instintivamente faz, é de suma importância para o bebê pois ajuda a desenvolver seu equilíbrio, tão importante para a aquisição da marcha (andar) e futuramente para a escrita. Há pessoas que, por causa de certas reportagens de TV, tem medo de balançar o bebê, coisa de americano dos EUA, onde tocar ou abraçar uma criança não é algo muito incentivado. Mas desde que existe mãe, os bebês são ninados com balanceio. Os americanos do sul, alguns índios, por exemplo, carregam seus bebês envolvidos em faixas no corpo materno, e estes ficam seguros e felizes por continuar sentindo o movimento de balanceio que viviam dentro do útero (a corrente pediátrica que apóia atitudes como essa baseia-se na teoria de que o bebê precisa de uma fase de adaptação extra-uterina bem próxima à mãe nos primeiros meses de vida). O que faz mal é sacudir o bebê, não balançar. Isto esclarecido, eu me inspirei em nossas índias sul-americanas e levei o meu sling para a sala de aula. O sling é um paninho moderno mas como as faixas de tecido das indígenas, que serve para carregar o bebê por muito tempo sem cansar os braços e sem tirá-lo de perto do corpo, colocando-o exilado num carrinho de bebê, por exemplo. Usei muito com meus dois filhos, e é o que me permitia usar o computador e fazer pequenas tarefas domésticas com eles no colo. Então não foi difícil pegar os bebês, um por um no meu sling e balancear ao som da referida música. Você pode usar qualquer música com o tema que remeta ao balanceio (o compasso ternário é bem propício). Pode ser "O barquinho" da bossa nova (Menescal e Bôscoli) ou este abaixo:




A canção com percussão corporal apresentou o palhaço bochechinha, que adora estourar bochechas. Com um desses palhacinhos de cone, que sobem e descem, estouramos muitas bochechas fofas!



Nossa parlenda foi com uma bolinha sonora. Bastou fazer a primeira vez para a turma do Infantil ficar toda de pezinho estirado esperando sua vez!

"Rebola a bola (marcando um pulso)
Rebola com jeitinho
A bola sai bolando (fazer movimentos circulares com a bola)
E embola no seu pé" (bater de leve com a bola no pé da criança)

A apreciação musical ficou por conta da macha dos soldadinhos de Schumann (Do seu "álbum para a juventude"). Para vivenciar a forma A - B -A da música fizemos uma grande roda e giramos na parte A e batemos os pés no chão como soldadinhos na parte B. Com os bebês, cada professora/auxiliar pegou um bebê no colo e marchamos na parte A e giramos lentamente na parte B. Aconselhei que durante toda a música os adultos desse pequenas palmadinhas de levezinho, com os dedos, nas costas dos bebês, para marcar a pulsação. Bebês costumam se sentir confortáveis com esse tipo de contato rítmico.


A canção socializadora chama-se "brincadeira" e promove o contato entre os adultos e as crianças e também das crianças entre si. Podemos mover as mãos e pés dos bebês ritmicamente, e fazê-los bater a palma da mão na nossa enquanto cantamos. Com o Infantil I dá para pedir que batam nas mãos uns dos outros.

"Olhem só pra mim
Eu agora vou brincar
Pois minhas mãozinhas vou juntar e separar:
Junta, separa, junta, separa
vem que eu vou mostrar
Jutna, separa, junta separa
Não vou me enganar" (bater palmas ou pés no final)
(Elvira Dummond)


A canção com instrumento musical chama-se "Meu tamborzinho", mas você pode utilizar qualquer canção em que a percussão tenha destaque, como a música do macaquinho com que iniciamos a aula, por exemplo. Para esta atividade eu levei um conjunto de tambores muito lindinhos que comprei na Kazoo Toys, em que um cabe dentro do outro.É fácil de guardar e eles são afinados formando uma escala musical. São bastante coloridos e o fato de terem alturas diferentes foi perfeito para trabalhar com eles nessa atividade. Mostrei que os sons do tambor grande e do pequeno eram diferentes. E fiz a associação grande/grave, pequeno/agudo. Pedi que tocassem todos e de várias maneiras (dentro e fora, ao lado, dois ao mesmo tempo). Como o material é um tanto delicado, usei baquetas feitas de lápis com ponteira de borracha colada com cola quente. Perfeito!






Encerramos com nosso relaxamento e em seguida, a música da despedida. Neste dia em especial eles me cobriramde beijos! Que delícia!

Dica para pais

Você lembra como se faz um chapéu de soldado com dobradura de jornal? Para você pode ser só uma velha lembrança que ficou da infância. Para seu filho, ver uma folha de jornal virando chapéu, é MÁGICA. Tenha muitos momentos mágicos junto ao seu filho. A música é uma grande aliada para isso. Depois de pronto o chapéu é só colocá-lo na cabeça e seguir o ritmo da marcha!

(clique para aumentar)

Marcha dos soldadinhos de Schumann


Dica para professores

A aula de música costuma movimentar o corpo e excitar os sentidos, deixando a criança eufórica, por isso é preciso diminuir o ritmo antes de terminar a aula (lembrando que normalmente a criança vai continuar tendo aula regular depois, e a professora deles agradece se estiverem calminhos...)
Ao final de cada aula com meus pequenos há o momento de relaxamento. Este momento é muito bem aceito por eles, especialmente quando se torna parte da rotina. É o aviso que a aula está acabando (alguns ficam com carinha triste, ô dó!), mas para acabar bem nós o fazemos com carinho. Numa aula e que a mãe acompanha o bebê, é o momento de dar massaem, ninar, embalar, fazer carícias enquanto a criança descansa num colchonete ou mesmo nos braços da mãe. Numa aula na escola, em que não é possível pegar todos os bebês ao mesmo tempo, ainda assim é possível ao professor se aproximar e dar um beijo, fazer um afago, dar um abraço em cada um.
Uma outra intervenção interessante para esse momento é a presença de um objeto transicional estabelecido pelo professor. Eu criei uma "naninha" para cada criança. É uma almofadinha simpática onde eles podem descansar, abraçar, ninar e como todo objeto transicional, tentar arrancar o olho, pisar, jogar... hehehe temos que estar preparados para essas manifestações também, pois são normais na relação emocional criança-objeto. O importante é que eles possam dar vazão a seus sentimentos e isso os leve, também, a um alívio das tensões. Minha naninha foi confeccionada de forma muuuuito simples: um saquinho de TNT, do tipo que se compra para sacolinahs de aniversário, olhinhos de plástico para boneco, boca e nariz feitos com caneta para tecido. O enchimento foi feito com manta acrílica. Há crianças que me cobram as naninhas, e se por acaso as esqueço (como já aconteceu), tenho que dar explicações...





(plano de aula adpatado do livro "Descobrindo Sons", de Elvira Drummond, vol. 02)

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Aula 02 - Infantil II e III - Maestros e maquinistas

Sobre o tema da aula:

Um dos grande conflitos teóricos, pelos quais eu, como educadora, também passei foi: que tipo de conteúdo abordar nas aulas e como fazê-lo? A minha formação como educadora musical me ensinou a não ver com bons olhos ensinar teoria musical para crianças pequenas, por exemplo, com seus símbolos e regras de conservatório. Mas à medida que eu trilhei outros caminhos pela psicopedagogia e no mestrado de Psicologia Cognitiva, passei a entender aspectos do desenvolvimento infantil que me fizeram repensar meu posicionamento. Hoje sou a favor que as crianças tenham acesso a símbolos, terminologias e teorias musicais, na medida de sua capacidade cogntiva, mas essa capacidade não pode ser subestimada. Vários estudos e pesquisas tem demonstrado que o cérebro infantil compreende muito mais do que costumamos crer, e não é preciso forcá-lo a isso: crianças até 6 anos tem todas as ferramentas neurais e intelectuais para ir muito além do que lhes é dado ordinariamente. Em Psicologia Cognitiva percebi um grande embate entre Cultura e Linguagem como base da inteligência humana. E na dúvida eu fico com os dois: acho que todo conteúdo a ser selecionado para o processo ensino-aprendizagem deve passar pela Cultura da criança e pela Linguagem da criança. Quando damos oportunidade da criança aprender assim, vem à tona a verdade inegável: crianças AMAM compreender, e o que de melhor nós, educadores, podemos fazer por elas, é ajudá-las continuar amando o ambiente de aprendizado (o que normalmente não acontece, e na pré-adolescência torna-se um problema para muitos). Foram meus filhos que me fizeram perder o medo de ensinar certas coisas que eu julgava ser apenas para "gente grande". A grande diferença está na forma, na metodologia com que apresentamos o conteúdo. A Escola Construtivista prega que todos os conteúdos devem ser contextualizados no universo da criança, passando por sua forma de ver o mundo. E é exatamente isso que decidi fazer: apresentar conteúdos musicais de uma maneira lúdica e objetiva, concreta, sem negar a necessidade de sentí-los e vivê-los. Essas crianças estão em pleno processo de letramento, e o universo musical pode ser inserido no contexto delas de forma natural e criativa, sem que isso seja nenhum problema, pelo contrário: o contato precoce, mas prazeroso, com esse universo será um incentivo para querer descobrir mais e mais, e se fixará como uma base sólida para futuras incursões mais profundas no estudo teórico da Música. Afirmo isso com a certeza de quem aplicou o método Doman com os dois filhos e percebeu que explicar o mundo para as crianças tem o maravilhoso efeito de torná-las apaixonadas por aprender. E esta é minha missão: explicar o mundo da música para os pequeno através do seu prórpio mundo.
Foi assim que cheguei a esta aula, para brincar com os compassos binário, ternário e quaternário.

Como foi?

Costumo iniciar a aula sempre com uma música de acolhimento bem animada, com bastante movimento. Depois introduzo umahistória, através da qual os conteúdos começam a ser apresentados. Nesta aula nós conhecemos três maquinistas de trem: o Bino (compasso binário), a Tereza (compasso ternário) e o Quaquá (compasso quaternário). Desenhei num painél cada personagem em uma locomotiva.

 

Agora com uma locomotiva de brinquedo cada aluno fez o percurso dos maquinistas. Além de compreender o movimento de regêncio da fórmula de compasso, é um ótimo exercício para treinar a lateralidade, tão necessária para a aquisição da escrita nesta idade.

- O trem no BINO vai e vem, para baixo e para cima, ele não gosta de perder tempo.

- O trem da TEREZA gosta de passear um pouquinho mais. Ele segue o caminho para baixo, mas vai até o rio (lado direito) para só então subir a montanha.
 - O trem do QUAQUÁ é o que mais gosta de passear. Primeiro ele desce, depois vai para o parque (esquerda), depois para o rio (direita) e depois sobe a montanha.




Agora era hora de perceber esses caminhos na música. O movimento, que já foi fixado no exercício anterior, agora foi incetivado a ser feito com as mãos no ar, como em movimentos de regência. Em seguida, com a música ainda tocando, as crianças andavam e dançavam pela sala conforme o momvimento sugerido pela música. Durante os movimentos eu fazia a marcação do compasso dizendo UM, DOIS, ou UM, DOIS, TRÊS, ou UM, DOIS, TRÊS, QUATRO. Nem precisei pedir, pois ele naturalmente me acompanharam na marcação, em coro. Utilizei músicas de Johann Strauss Jr.:

- Compasso binário: marcha radetzky
- Compasso ternário: danúbio azul
- Compasso quaternário: pizzicato polca

Não se pode esquecer de mencionar e fazer um breve comentário sobre cada tipo de dança. É preciso atenção apenas com as variações de dinâmica típicas dos compostiores do período romântico: é melhor selecionar um trecho da música onde a pulsação esteja mais uniforme e clara para não confundir a audição deles. Para este caso, em especial, acho mais recomendável usar as músicas em arquivo midi, onde as notas são mais "batidas", sem tantos efeitos de interpretação (as interpretações podem ficar para um momento posterior, de apreciação). Você pode encontrar essas e muitas outras músicas para baixar no site Classical Archives.

Neste ponto eu fiz a comparação entre os maquinsitas de trem e os maestros. Maestros são pessoas que nos ajudam a seguir as regras musicais.
Os maestros dizem por onde os músicos devem entrar, sair, em que momento devem tocar mais forte, mais fraco, mais apaixonado... eles conseguem fazer com que um monte de músicos diferentes, tocando instrumentos diferentes, façam uma música só, que todo mundo entende e acha bonito.

Nãu deu tempo na nossa aula, mas podemos brincar de maestro para ficar essa idéia. É uma brincaderia tradicional e funciona bem com crianças a partir de 5 anos. Todos sentam em círculo, uma criança sai da sala. Elege-se o maestro e todo deverão imitar seu movimentos (gestos sonoros), quando ele mudar, todos mudam também. A criança que saiu, volta e tem três chances de adivinhar quem é o maestro. Se errar, "paga uma prenda" (cantar uma música engraçada, colocar um nariz de palhaço, etc).

Aproveitei também para falar um pouquinho sobre o compositor das músicas que ouvimos durante a aula: Johann Strauss Jr., conhecido como "o rei da valsa". Ele nasceu em Viena, e seu pai também era músico. Na época de Johann não havia CD, mp3 nem aparelho de som eletrônico, então, nas festas, eram os músicos que tinham que tocar para as pessoas dançarem. E ele adorava isso. Então compôs mais de duzentas valsas e mais um montão de danças. As pessoas gostam tanto das músicas dele que certo dia pediram para ele repetir 19 vezes a mesma música!

Complemento: assistir ao desenho animado do Mickey - Band Concert - 1935



Dica para pais:

No Youtube há várias músicas de Johann Strauss Jr., e todas elas são dançantes. Ele adorava compor músicas para as danças de salão tão em moda em seu tempo. Você pode se surpreender com a reação positiva do seu filho a essas músicas. Vamos lá, não se intimide com o tamanho do bigodele dele e experimente brincar com seu filho enquanto as ouve, deixando-o bem livre para dançar do jeito que quiser.

Lista de reprodução com músicas de Johann Strauss Jr. no YouTube

Dica para professores:

Agora que as crianças praticaram o movimento dos compassos binário, ternário e quaternário várias vezes com o corpo, você pode fazer uma atividade pedindo que eles desenhem esse movimento enquanto ouvem uma música com a respectiva fórmula de compasso. Mas não exija perfeição. Peça que lembrem da linha do trem, do movimento da marcha, do braço do maestro... e deixe que desenhem livremente com lápis de cor.

Aula 02 - Maternal e Infantil 1 - Passeando no jardim

Sobre o tema da aula:

Bebês e crianças na primeira infância são cativadas pelos sentidos. E seu modo de perceber as coisas passa de um sentido ao outro muito rapidamente. Por isso as atividades em Educação Infantil precisam de uma proposta sinestésica, ou seja, que englobe todos os sentidos na forma de apresentar os conteúdos. A música, em si, é um estímulo que prende muito a atenção das crianças, mas pode-se ampliar ainda mais seu alcance usando recursos visuais e táteis. Perceba a maneira como o bebê conhece um objeto: ele olha, toca, sacode, depois leva à boca. Na boca ele faz o reconhecimento tátil, olfativo e gustativo ao mesmo tempo. Sacodindo e jogando no chão ele faz o reconhecimento sonoro. E os pais vão à loucura quando eles decidem jogar um objeto no chão "trocentas" vezes e pedir de volta só para jogar novamente. Bebês são cientistas! E só depois de esgotar as formas de reconhecer um objeto é que ele perde o interesse. Embora a atenção que eles dirigem a qualquer coisa dure bem pouco tempo, você pode conseguir que essa atenção se prolonge mostrando um mesmo tema com diversos apelos sensoriais. Aqui, usamos a lagarta para conduzir uma aula cheia de timbres e movimentos. E eles "nem piscaram", atentos do começo ao fim da aula!

Como foi?

Depois de nossa canção de bom dia (sempre a mesma neste semestre, para marcar a rotina do começo da aula), usamos uma canção animada para fazê-los explorar as "bolinhas sonoras", que nada mais são que bolinhas normais, de piscina de bolinha, onde eu abri um buraquinho e coloquei diversos obejtos sonoros (mini guizos, arroz, grão de bico, miçangas, milho), cada tipo de objeto numa bolinha de cor diferente. É importante que os objetos façam sons bem diferentes entre si, então,por exemplo, se colocar milho, não use feijão, que faz um som bem parecido quando chacoalhado. Depois não esqueça de passar fita adesiva em volta da bolinha, várias vezes, para vedar bem o buraquinho. As professoras foram orientadas a ajudar que cada criança ouvisse o som das diferentes cores, e fossem levadas a associar pares de cons semelhantes. Foi uma festa!




A seguir, apresentamos a música da "Lagarta pintada", que é uma canção gestual fantástica, pois as crianças tão são levadas a interagir entre si (BAIXE O MIDI E A PARTITURA AQUI). Há várias maneiras de brincar com essa música, na tradicional, as crianças fazem um círculo, sentadas, em ao invés de segurarem nas mãos, seguram nas orelhas dos seus vizinhos, e vão para lá e para cá enquanto cantam a música, puxando as orelhas no final. Nossa, brinquei MUITO disso quando era criança! E ninguém reclamava do puxão, mesmo quando era dado com força, heheheh

Mas no caso dos bebês, onde temos limites de coordenação motora e as brincadeiras tme que ser mais "leves", eu criei uma lagartinha de tule, que, primeiramente, foi mostrada toda enroladinha na palma da minha mão. Enquanto cantava, eu ía passando suavemente a largartinha nas mãos, pés, e caso a criança mostrasse aceitação, também no rosto, braços dela. Ao final, colocava a largata perto da orelhinha do bebê e puxava o rabo dela, desenrolando-a. Eles amaram. Principalmente quando eu pedi que cada um puxasse a lagarta da minha orelha.
 "Lagarta pintada
Quem foi que te pintou?
Foi o(a) fulano (a) que aqui passou
A roupa de fulano (a) fazia poeira
Puxa a lagarta da sua orelha."

(Para fazer a lagarta é só dar vários nós numa tira de tule (aquele tecido furadinho grosso). Depois enrolar outra tira de tule de outra cor entre os nós e colar olhinhos)

(a cabeça foi feita com dois nós, e depois mais um nó em cima)



A história foi sobre o ciclo de vida da lagarta, e eu lembrei de um livrinho em inglês que é uma fofura, o "A very Hungry Cattepillar", que ensina diversos conceitos importantes para essa faixa etária, como dias da semana, contagem e numeração, alimentos, ciclo de vida, ciclo dia/noite, cores através da história. Contei a história com figuras baseadas neste livro e enfatizei o som da lagarta comendo (nhac nhac) e da borboleta (flap, flap), cada som associado a um gesto, culminando com a música do Palavra Cantada, "A lagarta e a borboleta".
A lagartinha comilona pps from Adriano Aires (Encontrei uma versão em português)
(experimentando texturas durante a história do ciclo de vida da lagarta)


 (lagarta - nhac nhac)

 (borboleta - flap flap)



No momento de se movimentar cantamos ao som de uam música de trenzinho "para formar uma lagarta" e pasear pelo jardim e logo em seguida fiz a apreciação musical, ainda com as crianças marchando ao som da "valsa radetsky", de Johann Strauss Jr. Sem perder o pique, fomos para a canção de percussão corporal:

Vem comigo aprender
com minhas mãos assim fazer (bater palmas)
e com minha voz louvar a Deus.
Vem comigo aprender
com meus pés assim fazer (bater os pés)
e com minha voz louvar a Deus.
Vem comigo aprender
com a cabeça assim fazer (balançar a cabeça, bater pés e mãos)
e com minha voz louvar a Deus.

 (Movimentos - CD Meu Primeiro Louvor - Editora Luz e Vida)

 Nossa parlenda foi essa aqui:

"Borboleta, leta, leta (batendo asas e palmas)
 Olha pra mim faz careta, (fazer careta)
 Com o bico da caneta, (com as pontas dos dedos fazer o desenho de asas no ar)
 Desenhei na tabuleta
 A formosa silhueta
 Da borboleta, leta, leta." (bater palmas no final)

Seguimos com um momento de partilha, cantnado uma música e passando a bolinha com guizos. Há um espaço na música para eles brincarem com a bola e outro espaço para passarem a bola adiante. Essa parte da aula é importante porque nesta fase do desenvolvimento infantil as crianças são extremamente egocêntricas, e não é por maldade, é porque realmente elas não conseguem processar a idéia de dividir como algo bom, elas pensar que dividir = perder. Com esse trabalho em música elas vão aprendendo que dividir pode ser divertido. Também é uma ótima ocasião para ensinar pulso, fazendo-as passar o brinquedo de acordo com uma marcação rítmica.


Por fim, cantamos a cantiga de roda popular "Borboleta pequenina saia fora do rosal" para conhecer o timbre do tambor. É fundamental que cada criança tenha oportunidade de explorar o instrumento livremente, tocar de um lado, de outro, com a mão, com baqueta, tocar nas bordas, do lado... enfim, ter tempod e "se apaixonar" pelo som do instrumento.


Terminamos nossa aula com o momento de relaxamento e em seguida, a canção de despedida. Já na segunda aula eles já comprenderam que era momento de dizer "Tchau, tchau". Essa compreensão é um suporte emocional para lidar com separações provisórias, como acontece com a família deles todos os dias. É reconfortante saber que, como a tia Lu, a mamãe e o papai também vão e voltam.

Dica para os pais

A música apreciada nesta aula é perfeita para ouvir dançando. Não vai ser difícil ouví-la pelo menos três vezes ao dia durante quatro dias por semana. Na verdade é possível que seu filho queira ouvir bem mais! A versão completa da música você baixa AQUI.

Marcha Radetzky - Johann Straus Jr.



Dica para os professores

O professor de musicalização na Educação Infantil não pode se restringir a usar apenas elementos musicais. O suporte visual vai reforçar os conteúdos explorados, e contextualizar as músicas trabalhadas. Nesta aula usamos um recurso simples mas de ótimo impacto entre elas: folahs recortadas em cartolina verde e diversos tipos de macarrão: argolinha para os ovinhos da lagarta, parafuso para a fase da lagarta, conchinha para a fase da pupa e uma folha-peek-a-boo, com uma borboletinha escondida. Essa, de pelúcia, eu peguei num elástico de cabelo desses que se vende para "empiriquitar" menina :-)


quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Aula 01 - Infantil II e III - A música nos ensina regras

Sobre o tema da aula:

Um dos grandes trunfos da Educação Musical é, além de trabalhar todos os objetivos musicais e transversais, como linguagem e raciocínio lógico-matemático, socialização, etc, ensinar as crianças de forma clara e eficaz sobre regras. A Música está cheia de regras que podem ser apresentadas de maneira lúdica. Escolhi este tema para a primeira aula porque as crianças daEducação Infantil estão passando, justamente, por um período de adaptação, em que confrontam as regras de convivência de seu lar com as novas regras impostas pela escola. O grupo social, o ambiente e a rotina são muito diferentes daqueles vivenciados em família, e por vezes custa à criança compreender e aceitar esses novos limites. A música vem em auxílio para provar que as regras não só são importantes como também podem ser agradáveis de seguir, já que as brincadeiras musicais só funcionam se seguirmos certas regras. Esta reflexão foi feita pelo meu professor de Musicalização, o querido Flávio Medeiros, durante uma de suas inesquecíveis aulas. E é uma reflexão que virou ação e deu muito certo com meus alunos da turma entre 3 e 6 anos.

Como foi?

Aula de música tem que SEMPRE começar interessante a animada. Começamos trabalhando pulso, duração e timbre com essa música super simpática do CD "Conversa de Bicho". Usamos clavas para acompanhar, e foi uma "pipocada" jóia! Depois cada aluno virou uma "pipoquinha" pulando como sugere a música.



Para nos apresentarmos, utilizei a brincadeira de passar a bola, e quando a música para, quem está  com a bola diz o nome e todos o repetem, seguindo a orientação de um pulso dado pela professora.

Depois cantarmos e dançamos juntos a canção "Empurra o trem -  CD Para Crescer – Coleção CDzinho":

"Empurra o trem que assim ele anda bem. (Bis)
Se não empurrar, o trenzinho vai parar (Parou!)
Lá vem o trem pilotado por alguém. (Bis)
Quem pilotou diga o nome, por favor.

Empurra o carro que ele pega no embalo. (Bis)
Se não empurrar o carrinho vai parar. (Parou!)
Lá vem o carro pilotado por alguém. (Bis)
Quem pilotou diga o nome, por favor.

Empurra o bonde que ele vai não sei pra onde. (Bis)
Se não empurrar o bondinho vai parar. (Parou!)
Lá vem o bonde pilotado por alguém. (Bis)
Quem pilotou diga o nome, por favor.

Refrão:
Piuí! Piuá! O trenzinho é maluquinho ele anda sem parar. (Bis)
Bota a mão no ombro, bate o pé (Bis)
O trenzinho é maluquinho ele vai onde ele quer.
Como é que o trem faz? Piuí (Bis)"

Pode-se utilizar qualquer outra música com comandos corporais. Comentamos sobre as regras apresentadas pela música, e como seguí-las tornava a brincadeira mais divertida. Observamos que se um só aluno não seguisse essas regras, todos os outros não poderiam brincar. Contextualizamos essas informações, fazendo as crianças  lembrarem das regas que elas seguem em casa, na escola e em outros ambientes sociais. Mostrei várias plaquinhas com essas regras representadas, e eles gostaram muito de ver e identificar cada uma.

A idéia também  foi iniciar as crianças na história de uma viagem pelo Mundo da Música, de onde partimos de trem. E por falar em trem, não poderíamos deixar de lembrar Villa-Lobos com seu Trenzinho Caipira. Aproveitamos a música para perceber as dinâmicas de rápido-lento enquanto fazíamos a apreciação da obra. Numa segunda audição, as clavas estavam disponíveis para quem quisesse fazer a marcação do pulso ou simplesmente se expressar ritmicamente.


Concluímos explicando que as regras musicais nos ajudam a ouvir, cantar e tocar melhor. E relacionamos algumas regras musicais (o professor pode criar outras regras até com a ajuda dos alunos):

- Cantar, tocar e movimentar-se dentro da pulsação da música; (já tinha explicado o que é pulso)
- Ouvir com atenção antes de cantar;
- Ouvir a própria voz e conferir se ela está cantando as mesmas notinhas que a professora cantou;
- Cantar e tocar junto com os colegas, e não tentando fazer mais alto que eles;
- Não ter medo nem vergonha de cantar, dançar, tocar ou fazer qualquer brincadeira musical, mas esperar o momento para fazer cada coisa.
- Tratar bem os instrumentos, e saber a hora de começar e de parar de tocar.

Dica para os pais

Pesquisas demonstram que para uma música ser bem fixada na mente da criança ela tem que ser ouvida pelo menos três vezes ao dia, durante uma semana. O nome da música e do compositor também devem sempre ser anunciados. Ouvindo passivamente ou dançando, cantarolando, brincando, o importante é que a música seja um momento de prazer. Colocarei aqui, a cada aula, uma música que trabalhamos em sala de aula para ser companhia para você e seu filho em casa, no carro, durante as brincadeiras, no computador... escute, perceba detalhes, preste atenção na reação dele, e curta esse momento com seu filho!





Dica para professores

Como fazer clavas? A clava, ou pau-de-rumba, como também é conhecido, é um instrumento fundamental para a musicalização infantil. É de fácil manejo e permite explorar vários elementos musicais, além de marcar ritmo em atividades psicomotoras também. Você pode encontrar para vender por menos de R$ 20,00, mas se sua turma for grande pode ser dispendioso comprar um par para cada aluno. A solução que encontrei aqui foi fazer as minhas clavas. É melhor que a clava seja de madeira firme, "de lei", pois a sonoridade é melhor. Mas também é possível obter resultados interessantes, em turma, com clavas feitas de pinus, que é  mandeira dos cabos de vassoura.

(corte pedaços de cabos de vassoura de 20cm de comprimento)

(lixe bem para tirar as rebarbas e farpas)

(Pinte. Eu usei base acrícilica para artesanato, e por cima pintei com tinta acrílica vermelha. Ah, e use luvas se tiver amor aos seus dedinhos)



Observe que aos 0:19s Vinícius, por iniciativa própria, cria um ostinato. A idéia, neste primeiro momento, era fazer eles se expressarem livremente, ou acompanhar o pulso, mas sem modelos nem nenhum tipo de indução, apenas para "sentir" a música.