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.......................................Espaço de Educação Musical para pais, alunos, amigos e colegas de profissão da professora Luciana.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

O que é Musicalização Infantil?

A primeira tarefa de um professor de Música que atua com crianças e deixar conhecer o significado de seu trabalho. Aulas de música para crianças - também conhecidas como "musicalização infantil" - são algo novo no no universo pedagógico brasileiro. E somente agora, depois da lei 11.769/2008, que torna obrigatório o ensino de Música como componente curricular nas escolas de Educação Básica (Educação Infantil e Ensino Fundamental), é que muitas pessoas começam a se questionar sobre o que é e como deve ser realizada a musicalização infantil.

Vejamos um breve resumo com as fases pelas quais passou o ensino de música para crianças no Brasil:

- FASE I  - Século XVI
Os jesuítas foram os primeiros profesores de música do Brasil. Eles utilizavam a música religiosa e o canto como forma de catequizar os índios e implantar aqui a cultura européia. Usavam músicas simples, e as crianças eram seu "alvo" preferido, pois eram ainda pessoas em formação, portanto mais flexíveis e menos críticas para aceitar aquela nova cultura.

- FASE II - Século XIX
Com a vinda de D. João VI para o Brasil, vieram também vários músicos para compor a corte do rei. A música era encarada como um ofício, que era transmitido de forma individual, do mestre ao discípulo, e tinha basicamente a função de entreter e de ornamentar as cerimônias religiosas. Em 1841 foi fundado o primeiro conservatório musical do Brasil. Conservatórios são escolas especializadas em formar músicos. Isso não era encarado como assunto de criança. E as aulas eram feitas nos moldes dos conservatórios europeus, reproduzindo a cultura de lá como a mais certa e a mais bonita.

- FASE III - Início do século XX
Começaram a regular o ensino de música no país através de leis e decretos. Mas não havia consenso: cada estado tinha sua própria legislação e exigências. Nessa época muitas mulheres buscavam estudar música como forma de se mostrar "bem educadas" e dignas de um bom casamento. Uma moça que tocasse piano era muito bem vista nos saraus então em moda. Nas escolas o ensino da música era feito através, principalmente, de manuais de teoria musical que reproduziam os livros europeus em seu conteúdo e forma, com prática de solfejo e outros assuntos bem técnicos. Não era exatamente algo divertido de fazer.

- FASE IV - 1920 - 40
Esse período é conhecimento como o período do "entusiasmo pela educação". É quando surge a musicalização infantil, e os educadores da área começam a pensar novas maneiras de ensinar música, mais efetivas, que tivessem mais a ver com a nova pedagogia infantil. Villa-Lobos era quem encabeçava um forte e organizado movimento de pensadores da Educação e Cultura musical no país. O canto orfeônico (hoje mais conhecido como canto coral) foi bastante explorado e incentivado. Faziam-se grandes festivais onde os coros das escolas se apresentavam, geralmente cantando músicas cheias de sentimento cívico. Esse movimento foi tão efetivo que até hoje muitas pessoas associam imediatamente "ensino de música" com "canto coral".

- FASE V - 1970 e a LDB
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação, promulgada em 1971 alterou bastante o ensino de música no Brasil. Surgiu a figura do professor "polivalente", formado em Educação Artística e apto (na teoria) para ensinar Artes Plásticas, Teatro, Dança e Música. Na prática nenhum curso prepara o professor para isso. A Música virou apenas mais uma "linguagem" a ser abordada nas aulas de Educação Artística, e acabou sendo reduzida a pano de fundo para apresentações e festas escolares. Vale ressaltar que nessa época estavam em moda os cursos técnicos, portanto a Educação Artísitica valorizava muito mais o ensino do Desenho e suas técnicas, que poderia formar os futuros trabalhadores da indústria então crescente. Todos os conteúdos precisavam ter uma utilidade prática, voltada para o trabalho, e passível de ser reduzida a um livro com todo o passo-a-passo. A herança que temos desse período são os livros de musicalização infantil feitos para o professor aplicar "tal-e-qual", com tarefinhas prontas, na maioria escritas, e sem muito espaço para a criatividade e o fazer musical. E também as famosas revistas do tipo "toque violão fácil".

- FASE VI - 1996 e a LDB
Uma nova lei revogou a antiga LDB e institui a disciplina de Artes na Educação Básica. Filosoficamente muito mudou, pois quem elaborou esta lei, e depois os Parâmetros Curriculares Nacionais, estava bastante entusiasmado com o escolanovismo: um movimento que pregava que a criança deveria ser a construtora do seu próprio saber. Muito se falou como era bela essa nova teoria de levar em conta o universo infantil, o saber e a criatividade, e até mesmo algumas escolinhas de arte foram criadas com o intuito de concretizar esse ideal. Mas na prática, a Educação Musical ficou meio "perdida" no meio de teorias e filosofias, e a prática de sala de aula se mostrava sem norte.

- FASE ATUAL - Nós, educadores musicais.
Pedagogicamente, vivemos hoje um momento histórico-crítico, em que podemos rever e refletir sobre a nossa própria história e buscar novos caminhos, com fundamentação teórica mas imprescindivelmente com uma prática coerente, que promova o aprendizado e o amor pela música como importante fator cultural. Felizmente nos anos 80 muitos debates começaram a ocorrer em torno da Arte-Educação no Brasil, e posicionamentos como a metodologia triângular, de Ana Mae Barbosa (fazer, analisar, contextualizar os conteúdos em arte) despertaram vários educadores musicais para a necessidade de também repensar a educação musical de nossas crianças. Pessoas como a educadora Cecília França Cavalieri abriram, com seu trabalho, novas perspetivas para o fazer do professor de música na escola. E hoje podemos entender a musicalização infantil como algo desapegado dos livros e manuais teóricos, mas fruto de uma interação música-arte-infância que se renova todos os dias.

MINHA DEFINIÇÃO

Para mim, o professor de Musicalização tem que, primeiro amar o que faz, a ponto de estar sempre buscando, aprendendo, criando novas formas de levar a música até as crianças. E fazer isso de uma forma que os alunos, pais e diretores de escolas percebam que o professor de música não é um RECREADOR, não é mero "regente de coral", não é o responsável pelas festinhas das datas comemorativas. Sim, muitas vezes somos isso também, pois o canto e a diversão devem ser constantes nas aulas, mas não somos apenas isso. Sim, muitas vezes utilizamos a flauta doce em nossas aulas, mas há centenas de outros instrumentos que as crianças podem e devem conhecer. Que podem e devem criar. Que podem e devem gostar. E acima de tudo, o professor de música é aquele que NÃO imobiliza as crianças sentadas no chão a aula toda, com a desculpa de estar com a mãos ocupadas num violão e fazendo-as "ouvir música". Porque sim, nós até paramos para ouvir música com as crianças, mas a maior parte do tempo elas estão se movimentando no intuito de criar e ouvir sua própria música, inventar seus próprios gestos. E elas nem precisam parar para entender e contextualizar. Porque as crianças são muito mais evoluídas que os adultos na capacidade de perceber: elas pensam fazendo, falam dançando, escutam cantando, criam sem lápis nem papel. Elas sabem a diferença entre imitar e reproduzir, e nós? Sim, nós até as ensinamos a imitar, mas a reproduzir jamais.

MUSICALIZAÇÃO INFANTIL é transformar aqueles assustadores livros de teoria musical em conteúdo leve e cheio demovimento para as crianças. É levar conteúdos musicais de verdade dentro de trufas de histórias coloridas, divertidas. É fazer a criança viver a música como todos os sentidos, até sentir que aquilo pode sair de dentro dela... e ser bonito! Em palavras mais acadêmicas, a musicalização infantil não visa necessariamente a formar músicos, mas amantes da música, que como tal são pessoas mais sensíveis, mais ligadas à uma vida cultural, mais humanos no meio de um sistema educacional que só valoriza o conhecimento que pode ser aferido em notas. Essa tarefa de humanização e encantamento tem objetivos musicais e pedagógicos específicos a serem alcançados, mas toda a parte teórica é papel do professor. Os alunos ficam com a diversão, e se divertem enquanto aprendem com os elementos sonoros.

Com a musicalização as crianças aprendem a manejar a linguagem e a construção semântica, que o Português irá cobrar. Aprendem elementos de raciocíonio lógico-matemático com o corpo, que vai ajudá-las a entender a Matemática. Aprendem sobre convivência social e respeito às diferenças, aprendem o valor da História, nos entremeios da qual todos os povos tiveram e tem uam produção musical a ser visitada, aprendem sobre regras de maneira a entender os benefícios delas para si mesmo e para o próximo, aprendem a descobrir que a criação pode mover o mundo, pois a musicalização isntiga seus intintos de experimentação que vão precisar para estudar as Ciências. A musicalização exercita a imaginação, trabalha o sentimento, não apenas o sentimento interior, mas o sentimento de uma época, o sentido do agora, do tempo presente. E acima de tudo, a musicalização infantil desenvolve a consciência estética, que fará a criança buscar no mundo uma harmonia e equilíbrio entre emoção e razão que não são ensinados em nenhuma outra disciplina.

MUSICALIZAÇÃO É ENSINAR A DAR UM SENTIDO MAIOR COM O SOM.

Chegar a essa consciência é fruto de uma entrega e um respeito muito grande pela criança, que é quem nos ensina os caminhos da aprendizagem. E o professor de musicalização deve estar sempre humilde para aprender com elas. Deve também estar sempre seguro da importância do que faz, e para tanto deve buscar beber constantemente nas fontes dos estudiossos da Educação Musical, que devem fazer parte do nosso planejamento e vivência em sala de aula. Professor de musicalização tem obrigação de conhecer, pelo menos, o pensamento e a obra de Orff, Kodaly, Dalcroze, Koellreutter, Murray Shafer, Suzuki. E incursionar pelos pensadores da educação musical brasileira também. Mas isso é assunto para posts futuros...